O Recolher Obrigatório em França
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Emmanuel Macron annonce un COUVRE-FEU en Île-de-France et dans 8 autres villes
14 octobre 2020
Covid: um recolher obrigatório para quê?
Os Franceses ficaram a saber com estupefacção que o seu governo considera uma medida de ordem pública, um recolher obrigatório, como sendo eficaz para prevenir uma epidemia.
Tendo toda a gente compreendido que nenhum vírus faz pausas de acordo com horários fixados por decreto e dado os muitos erros precedentes, coloca-se a questão que incomoda: “um recolher obrigatório para quê ?”
Thierry Meyssan
Rede Voltaire | Paris (França) | 28 de Outubro de 2020
Vários países ocidentais pensam estar confrontados com uma nova vaga epidémica de Covid-19. As populações que já sofreram muito, não com a doença, mas com as medidas tomadas para as proteger, aceitam com dificuldade novas medidas de ordem pública por motivos de saúde. É, pois, a ocasião para analisarmos os comportamentos.
Os governantes sabem que terão de prestar contas pelo que fizeram e pelo que não fizeram. Face à doença e ainda mais face a esta pressão, foram forçados a agir. Como é que imaginaram a sua estratégia?
Para a elaborar, apoiaram-se no aconselhamento de especialistas (médicos, biólogos e estatísticos). À partida, estes separaram-se por disciplinas e opuseram-se entre si de tal forma que os governantes apenas puderam continuar com alguns deles. Mas com que critérios os escolheram?
Muitas incertezas
Enquanto as opiniões públicas são persuadidas de que
- o vírus se transmite por gotículas respiratórias;
- as contaminações podem ser contidas pelo uso de máscaras cirúrgicas e a manutenção de uma distância de pelo menos um metro com os interlocutores;
- é possível discernir as pessoas sãs das doentes com recurso a testes PCR;
os especialistas são muito menos conclusivos. Alguns afirmam, pelo contrário,
- que o vírus se transmite principalmente não através de gotículas respiratórias, mas pelo ar que se respira;
- que, por conseguinte, as máscaras cirúrgicas e o distanciamento social não servem para nada;
- que os testes PCR que são realizados não medem a mesma coisa segundo os diferentes laboratórios e que, por consequência, as estatísticas de somatório acabam por somar “alhos com bugalhos”.
Assim, apesar das mensagens tranquilizadoras das autoridades, reina a maior confusão sobre as características desta epidemia.
Que fazer?
O problema com que os governantes foram confrontados era novo. Nenhuma formação profissional os havia preparado para o enfrentar. Portanto, viraram-se para especialistas. Se os primeiros lhes deram conselhos claros, tudo se tornou complicado quando outros vieram contradizer estes. Ficaram desorientados.
Sendo os governantes políticos, apenas poderiam reagir em função da sua experiência política. Com a idade, aprenderam a propor sempre mais, já não 0,5% de aumento do salário-base como os seus concorrentes, mas 0,6%, mesmo que isso signifique achar uma desculpa para não ter que cumprir depois as promessas. Apanhados desprevenidos, lançaram-se pois numa escalada palpites com os seus vizinhos, tomando decisões mais drásticas umas que as outras a fim de mostrar que lhes eram superiores. Acima de tudo, mascararam a sua incompetência recorrendo a medidas autoritárias.
Se eram tecnocratas, apenas podiam reagir em função da experiência do seu corpo burocrático face a catástrofes de grande amplitude. Mas é difícil adaptar a uma crise sanitária as experiências adquiridas na luta contra inundações ou tremores de terra. Por reflexo, voltaram-se portanto para as administrações de saúde pública pré-existentes. No entanto, os políticos já haviam inventado novas estruturas duplicando as precedentes, sem especificar a repartição de competências. Em vez de unir os esforços, cada um deles tentou, pois, preservar o seu espaço.
Se os governantes tivessem sido escolhidos em função da sua autoridade, quer dizer, ao mesmo tempo pela sua firmeza e pela sua preocupação com os outros, eles teriam abordado o problema em função da sua cultura geral.
Em tal caso, saberiam que os vírus precisam das pessoas que infectam para viver. Por mais mortal que fosse o Covid-19, nas primeiras semanas da sua erupção não iria matar a humanidade, antes iria adaptar-se aos homens. Daí que a sua letalidade cairia rapidamente e não haveria jamais pico epidémico. A ideia de uma «segunda vaga» iria parecer-lhes altamente improvável. Nunca, desde que se conseguiu distinguir os vírus das bactérias, se observou qualquer doença viral com várias vagas.
Os surtos aos quais se assiste hoje em dia, nos Estados Unidos por exemplo, não são pequenas vagas suplementares, antes marcam a chegada do vírus a novas populações às quais ainda não se adaptou. O somatório nacional do número de doentes mascara a distribuição geográfica e social.
Além disso, ignorando como o vírus se transmite, os governantes imaginariam que o faria como todas as outras doenças respiratórias virais: não por gotículas respiratórias, mas, sim pelo ar que se respira. Da mesma forma, deveriam saber que em todas as epidemias virais, a maioria das mortes não é imputável ao vírus em si mesmo, mas às doenças oportunistas que ocorrem nesta ocasião. Por conseguinte, decidiriam recomendar a todos para arejar abundantemente os seus locais de vida e teriam tornado obrigatória essa medida nas administrações. Além disso, teriam recomendado a todos, não para desinfectar as mãos, mas sim para as lavarem o mais frequentemente possível. Teriam garantido a instalação do maior número possível de lavatórios de mãos.
Essas foram, aliás, as duas medidas principais que a OMS aconselhou no início da epidemia, antes da histeria se ter substituído à reflexão. Nada de uso de máscaras cirúrgicas, nada de desinfecção, nada de quarentena e ainda menos de confinamento de pessoas sãs.
A Ciência não dá respostas definitivas,
levanta simplesmente as questões
A maneira como os cientistas foram postos em cena ilustra uma manifesta incompreensão do que é a ciência. Esta não é uma acumulação de saberes, mas um processo de conhecimento. Acabamos de constatar a quase incompatibilidade entre o espírito científico e a prática actual.
É um absurdo exigir aos cientistas, que apenas iniciaram o estudo do vírus, da sua propagação e dos danos que causa, um remédio para o que eles ainda não conhecem. E é pretensioso para os cientistas responder a tais questões.
Uma mudança de sociedade
Aquando da irrupção deste vírus, certas medidas tomadas podem ser explicadas por erros de apreciação. Por exemplo, o Presidente Macron iniciou a prática do confinamento generalizado porque fora intoxicado pelas estatísticas catastrofistas de Neil Ferguson (Imperial College of London) [1]. Este anunciava pelo menos 500.000 mortos. Acabaram por ser 14 vezes menos, de acordo com números oficiais, que se sabe no entanto estarem sobreavaliados. Retrospectivamente, parece que esta grave violação das liberdades não era justificada.
No entanto, a escolha do recolher obrigatório, alguns meses mais tarde, quando testemunhamos a um ligeiro surto de óbitos, é incompreensível nos estados democráticos: todos puderam observar que esta doença era muito menos letal do que se temia e que o seu período mais perigoso acabou. Nenhum dado actual permite justificar tal violação das liberdades.
O Presidente Macron justificou pessoalmente esta medida evocando uma segunda vaga que não existe. Se ele a pôde tomar usando um argumento tão pouco convincente, quando será que poderá levantá-la?
É forçoso constatar que desta vez não se pode tratar de um erro de apreciação, mas, sim de uma política autoritária sob cobertura de crise de saúde [2].
NOTAS
- “Covid-19 : Neil Ferguson, o Lyssenko liberal”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 20 de Abril de 2020.
- “O Covid-19 e a Alvorada Vermelha”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 28 de Abril de 2020.
Autor Thierry Meyssan
Tradutor Alva (a tradução foi ligeiramente editada)
fim
Couvre-feu, par Thomas Wiesel
14 octobre 2020
FIM